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Rosalie Winter

Mudanças são sempre necessárias, mesmo que nos tragam um pouco de incertezas e um friozinho na barriga. Mudar é sinal de reviver, criar novas memórias, conhecer pessoas novas, é trazer aquela pequena faísca de esperança esquecida bem lá no fundo da alma, a superfície.

 

Meus pais e Ethan me apoiaram em minha decisão. Mas sei como é difícil a despedida, porém, estou finalmente seguindo em frente. Construindo meus sonhos e dando uma nova chance a mim mesma, de viver outra vez.

— Então é isso? Minha menina está indo embora? — a voz melancólica de mamãe soa atrás de mim, me tirando do transe, seu sorriso que é sempre radiante, hoje não se faz presente.

— Não estou indo para outro país, dona Madalena, são apenas dezesseis horas de distância.— suspiro, vendo ela franzir a testa me entregando mais uma caixa. — Nos falaremos pelo celular e visitarei sempre que possível vocês. — digo tentando animá-la.

— Não é a mesma coisa, Rosalie. — Resmunga enquanto pega mais uma das milhares de caixas que ainda restam no chão.

— Sei disso, mãe se eu pudesse levava vocês comigo. — digo, recebendo um sorriso singelo da pessoa mais importante de todas.

— Estou sendo egoísta, querida perdoe esta velha aqui. — diz segurando minha mão e olhando em meus olhos. — Depois de tudo que você passou, eu deveria ficar feliz por vê-la se reconstruindo e enfrentando seus medos. — suspira.

— A senhora não está nem um pouco velha, ao contrário, está em ótima forma. Não é egoísmo, mãe você apenas está com medo de ter sua filha longe. — digo, vendo lágrimas brotarem de seus olhos.

— Minha Rosa, eu sinto tanto orgulho da mulher forte e incrível que se tornou. — fala, me puxando para um abraço.

Sentirei tanta falta dos abraços calorosos de minha mãe, das piadas sem graça de meu pai e de meu irmão fazendo suas palhaçadas. Os últimos quatro anos foram de reconstrução, graças a minha família e ao Simon, eu consegui superar os meus traumas. Ainda estou vivendo um dia de cada vez, dando passos lentos, mas já não tenho tanto medo ou crises.

— Eu ficarei bem, mas  me prometa se cuidar também, viu? — afago seus cabelos, que aos poucos o tom grisalho vai se misturando aos castanhos.

— Sabe como sou, né Rosalie? Nunca ficarei tranquila com meus filhos longe, ainda mais minha pequena Rosa. — sorri, ao pronunciar meu apelido.

— Pare de drama viu? A senhora, ao invés de enfermeira, deveria ser atriz. — digo, e vejo sua falsa irritação.

Acabo recebendo um tapa no braço, me fazendo soltar um grito.

— Ai! Que foi? — resmungo, acariciando meu braço.

Mamãe está com os braços cruzados e batendo impaciente seu pé no chão e, se não a conhecesse, estaria com medo de seu olhar fatal.

— É assim que demonstra seu amor por sua filha querida? — Resmungo, fazendo toda uma cena dramática, resultando em outro tapa no braço, e com nós duas rindo.

— Se ajeita, menina! Depois eu que sou a atriz né, Rosalie Winter? — fala, virando as costas e entrando em nossa casa.

Em cima do sofá resta apenas mais uma caixa, onde guardei algumas roupas e portas-retratos. Caminho de volta até meu carro, colocando a última caixa no canto vazio do porta-malas.

— Nossa! Nem eu sabia que tinha tanta coisa assim.— suspiro cansada, posso dizer que agora sim é real a mudança.

— Olha que a maioria dos objetos já foram com o caminhão da mudança. — ouço minha mãe ao meu lado falar, enquanto verifica seu celular.

Suspiro, me encostando no capô do meu carro. Fico olhando os arredores da vizinhança onde passei os melhores momentos de minha infância e adolescência. A rua sem saída, com casas de conceito rústico e antigo, grita a palavra “lar”. Sorrio me lembrando de Ethan e eu correndo, apostando quem chegaria até a imensa árvore no final da rua e subiria primeiro nela. Vivi aqui até meus dezoito anos, depois me mudei para fazer a faculdade devido as surpresas da vida, eu voltei para cá aos vinte e cinco. Sou desperta de meus pensamentos, com a pergunta de minha mãe.

— Era para eu estar acostumada com mudanças né?

Suspiro, vendo ela com os olhos outra vez marejados, eu sabia que no fundo o medo dela não era eu ir para outra cidade, mas sim de me ver sofrendo tudo outra vez. Sabia o quanto ela sofria ao lembrar de tudo que passei.

— Não, a senhora não precisa se acostumar, eu também nunca estarei acostumada com isso. — sorrio, lhe abraçando de lado. — Mas como eu disse, mãezinha eu preciso fazer isso, recomeçar de novo. — beijo o topo de sua cabeça e acabo soltando um riso abafado, enquanto ouço ela se lamentar.

— Seu irmão foi o primeiro a explorar a vida adulta, mesmo eu sabendo que um dia vocês iriam crescer e seguirem suas próprias vidas, eu ainda não consigo deixar de chorar. — confessa, vejo seus olhos brilharem ao falar.

— Sei disso, dona coruja! — brinco, vendo ela rir com o apelido.

Meu irmão saiu de casa com dezoito anos para fazer faculdade, ao se formar, ele comprou uma casa perto do centro da cidade, facilitando sua ida ao trabalho. Ethan é tão difícil e orgulhoso, igualzinho ao nosso pai. Nem sei como os dois conseguem trabalhar juntos sem brigar. 

— A senhora vai ver, Chicago não é tão longe assim, E também, terei o Simon comigo lá. — lembro ela, que logo concorda — Falando nele, acabei de receber uma mensagem dele, me perguntando que horas chegaria.

— Pelo visto, somente a noite, aqueles dois resolveram ir pescar e até agora nada deles.— minha mãe ri, balançando a cabeça.

— Eu ainda estrangulo o Ethan! — massageio as têmporas, lembrando que o Bailey está com ele, aquele cão traíra.

— Vamos entrar e esperar eles lá dentro, enquanto isso, você me fala mais sobre a inauguração do restaurante. — Sou puxada pela minha mãe, que tagarela o quanto está feliz pelo novo restaurante.

Nos últimos quatro anos eu descobri na gastronomia meu escape, elaborei receitas antigas de nossa família em novos pratos, mas sem perder a essência. Quando eu viajava para a casa de meus avós, eles sempre tinham a receita certa para arrancar sorrisos e memórias felizes nossas, apenas com seus pratos deliciosos de comidas originárias da Espanha, país natal deles. Minha abuela sempre sonhou com o dia que um de seus filhos ou netos seguiriam o caminho da gastronomia, porém, ela não teve a oportunidade de ver isso acontecer.

  Eu acabei desistindo da minha paixão pela culinária pois, me trazia muitas lembranças e aumentava a saudade dela. Então, investi na faculdade de gestão econômica, e foi lá onde conheci aquele que transformou meus dias em um inferno, eu só descobri isso quando já era tarde. Mas foi na faculdade que fiz a melhor amizade de todas, Simon é como meu segundo irmão e, graças a ele e seu empenho em não me deixar desistir, nos tornamos sócios e abrimos nossa franquia de restaurantes com pratos cheios de amor e um gosto único. Somos uma ótima equipe, ele administra e eu fico encarregada de criar a arte gastronômica.

Como o sucesso gastronômico foi alto, ganhamos vários clientes e fãs de nossos pratos. Abriremos nossa nova franquia de restaurantes em Chicago, então aceitei administrá-lo de perto. “Delícias da Rosie” é o recomeço de uma jovem quebrada e a realização do sonho de minha Abuela Matha.

— Sei disso, filha e confio no Simon de olhos fechados, ele foi o único rapaz que conseguiu fazer você se animar durante esses últimos anos.

Mamãe, sempre observadora, nada passa despercebido pelos seus olhos.

— Quatro anos! Nossa! Às vezes penso que foi um delírio tudo que vivi ao lado de Josh. — Respiro fundo, tendo os flashs bem vivos em minha cabeça.

Pois, apenas dizer seu nome em voz alta, me faz reviver os piores momentos da minha vida.

— Melhor não estragarmos nosso dia falando daquele crápula.

Ouço a voz ríspida de mamãe, seu humor muda da água para o vinho, ao citar meu ex noivo.

— Tem toda a razão do mundo. — digo, pegando meu celular para visualizar uma mensagem de meu irmão.

— Realmente, mãe vou estrangular o Ethan. Ele e papai pegaram engarrafamento, se atrasaram. — digo, mostrando a mensagem a ela.

—Acho que não sou a única a querer atrasar esta viagem, né? —mamãe ri ao passar por mim, indo até a cozinha.

— Engraçadinha! — gritei, entretanto acabo rindo.

***

Estamos sentadas na sala, conversando sobre como Ethan surtou, quando contei a respeito da mudança de cidade. Ele e Simon decidiram escolher minha nova casa, em um bairro super seguro e onde ele tem conhecidos da patrulha de Chicago. Sempre que o assunto é minha segurança, ele exagera. Infelizmente, não sou a única a ter traumas.

— Seu irmão te ama muito, filha ele é um pé no saco com você por que a ama e tem medo.

— E eu o amo por ser desse jeitinho. — digo, bebendo mais um pouco do meu café.

— Você já tem a data de inauguração do restaurante? — pergunta enquanto pega nossas xícaras e leva até a cozinha.

— Sim, será no próximo mês. — digo olhando as horas no relógio da parede — Até lá já terei organizado o que falta e estarei acostumada com os funcionários e a rotina na casa nova.

— Tenho certeza que será o maior sucesso, assim como está sendo no daqui de Boston. — diz com um sorriso singelo.

— A propósito, contarei com a presença de vocês na inauguração…?— antes que eu termine de falar, sou interrompida pela voz de meu pai.

— Isso é pergunta que se faça, querida? É lógico que estaremos lá vibrando com você e o Simon. — Meu pai vem até onde estou sentada, beijando o topo de minha cabeça e faz o mesmo com mamãe.

Ouço os latidos aguçados de Bailey que entra na sala correndo, quando me encontra no sofá sentada,ele pula me lambendo. Seu cheiro de água e peixe entregam que o grandão resolveu nadar.

— Ei! Eu também estava com saudades suas, seu traíra! Fugiu de mim a noite né espertinho? — Afago suas orelhas enormes, sorrindo com seus olhos brilhantes e focinho molhado.

— Conseguimos te atrasar um pouco, maninha? — Meu irmão passa por mim, bagunçando meus cabelos.

Meu olhar fulminante arranca gargalhadas de meus pais e Bailey late junto em sinal de animação. Vejo ele correr até o seu pote de água.

— Agora que todos estão aqui, já posso me despedir e colocar o pé na estrada. — digo, vendo seus sorrisos enfraquecerem e as risadas cessarem.

— Mas já, maninha? Acabamos de chegar.

— Sim, Ethan eu preciso ir, já demorei muito aqui esperando vocês — suspiro vendo ele resmungar algo baixinho. — Vem cá, seu chato! — lhe puxo, o abraçando, o mesmo retribui fortemente.

Quando me afasto dele, fico observando minha família por alguns minutos. Corro até os braços de meus pais e os abraço fortemente e com um sorriso, me separo deles. Mais uma vez minha mãe e eu estamos chorando, e os dois casca grossas também estão com seus olhos marejados.

Após muitas promessas de ligações e mensagens, e depois de milhares de abraços e beijos, Sou acompanhada até meu carro por eles.

— Vem, Bailey sobe aí grandão. — Coloco meu cachorro para sentar no banco, com a ajuda de Ethan.

E antes de entrar em meu carro, recebi mais um abraço, agora de meu irmão. Sendo pega com suas palavras.

— Se cuida,Rô pedi a um amigo da patrulha de Chicago para cuidar de sua segurança, mas qualquer coisa me liga, não importa o momento, viu? — diz, e suspiro fundo com tudo.

— Eu prometo, mas não precisava disso, Ethan. — Digo, encarando seus olhos verdes iguais aos de mamãe.

— Sei disso, mesmo assim me sinto mais tranquilo com alguém cuidando de você de lá. —sorri e acabo revirando os olhos instintivamente.

— Tudo bem, cuide deles viu? — olho nossos pais da entrada e, com um último aceno, me despeço deles.

— Tchau, maninho. —  digo, já dentro do carro.

— Até breve, princesa. — me acena.

Aos poucos vejo eles ficando distantes pelo retrovisor, vejo Bailey com seu focinho na janela. — Afago seus pêlos, antes de voltar a atenção para a estrada.

—  Pronto, amigo?

— Au! Au!

— Chicago, aí vamos nós! —  sorrio com uma sensação incrível de que coisas boas me aguardam.

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