Ponto de vista de Graciela

No primeiro dia de aula, passei pelos portões da escola com o vento frio soprando contra meu rosto.

Já experimentou a sensação de pressentir algo grande, porém, sem ter a menor ideia do que seja?

Pois é. Era exatamente assim que eu estava me sentindo agora.

"Gracie! Gracie!" De repente, ouvi uma voz que só poderia pertencer a uma pessoa - Marilyn, minha melhor amiga no Colégio Water Bridge. Ela correu em minha direção em disparada, e me perguntei o que poderia estar acontecendo.

"Oi! Tudo bem?" Cumprimentei-a com um sorriso, que ela retribuiu mostrando a língua.

"Já ouviu as últimas?", sussurrou ela, olhando ao redor.

Dei uma risadinha. Ah, essa era a Marilyn, sempre pronta para estar por dentro das fofocas. Se houvesse alguma novidade, com certeza ela seria uma das primeiras a descobrir.

Queria saber como ela consegue.

"Não. Conta aí", respondi, revirando os olhos conforme ela se aproximava, inclinando-se em minha direção.

"Você não vai acreditar!"

OK. Agora, eu já estava ficando impaciente. O que poderia ser?

"Anda logo, Lyn. Desembucha!"

"Ouvi dizer que ele se transferiu de volta pra cá...", revelou ela.

"Ele quem?", perguntei, franzindo minhas sobrancelhas.

Marilyn olhou para mim e disparou o único nome que era capaz de me deixar com medo...

Hayden McAndrews...

"Quê!?", exclamei, sentindo arrepios na espinha. Meu coração parecia prestes a pular pela boca.

"Sim, ouvi dizer que ele voltou", confirmou ela, lançando-me um olhar simpático.

"Ele não tinha se mudado pra outra cidade? Por que voltou?", questionei, entrando em pânico.

Pera aí...

Se ele voltou, já deveria estar na escola.

Ah, não. Essa não!

Desde que me dou como gente, Hayden vem tornando minha vida um inferno, e sequer me lembro o que fiz.

Ele me provocava tanto que, às vezes, chegava ao ponto de me agredir.

E, ainda por cima, não era assim com mais ninguém.

Só comigo.

Após sua partida para outra cidade, há dois anos, motivada pelas obrigações empresariais de sua família, experimentei um profundo alívio e uma alegria renovada, encontrando prazer nas pequenas coisas da vida.

Mas, agora, ele estava de volta!

Este era meu último ano no ensino médio. Por que ele voltou assim, sem mais nem menos?

'Mantenha a calma...', eu disse a mim mesma, tentando aceitar a situação.

Então, respirei fundo.

Já se passaram dois anos, e os tempos mudaram. Ele pode nem se lembrar de mim.

"Vai ficar tudo bem." Marilyn tentou me tranquilizar, pondo uma das mãos sobre meu ombro. Porém, apenas assenti.

Quando entramos, nos separamos, seguindo para turmas diferentes.

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Entrei na sala de aula devagar, e logo ouvi um falatório. No fundão, um grupo de alunos conversava e ria. Evitando olhar para eles, tentei encontrar um lugar para me sentar.

Porém, foi aí que o vi... Ele estava sentado como um rei, e o resto dos alunos agiam feito seus súditos.

Meu coração acelerou, e passei a ofegar.

De repente, Hayden espiou por entre a multidão de alunos que o cercava, e seus olhos se arregalaram.

Ele parecia surpreso, mas seu espanto foi rapidamente substituído por um sorriso perverso, que eu conhecia muito bem.

Antes de aprontar, ele sempre sorria daquela forma. Era sua marca registrada.

"Não vai sentar?", perguntou minha outra amiga, Clarissa, que estava parada na minha frente.

Quando foi que ela chegou?

Quebrei o contato visual com Hayden e me sentei ao lado dela.

Porém, um desconforto penetrante tomou conta de mim, fazendo-me sentir como se estivesse em uma cadeira de pregos.

"Tá tudo bem?", indagou Clarissa, soando preocupada.

Claro que não! Eu nunca poderia estar bem com Hayden a poucos metros de mim!

Mas, mesmo assim, fiz que sim, dando-lhe um sorriso reconfortante.

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Durante toda a aula, pude sentir um olhar fixo em mim. Eu não precisava nem olhar para saber quem era, e só queria que o professor terminasse logo para que eu pudesse sair.

Não me orgulhava disso, mas não estava nem prestando atenção no que ele ensinava.

Mas espera...

Por que eu estava com tanto medo?

O que fiz de errado?

Não era a primeira vez que me fiz estas perguntas. A verdade era que eu não precisava fazer nada de errado para Hayden me machucar.

Alguns minutos depois, o sinal tocou, marcando o fim da aula. Arrumei minhas coisas e saí correndo, ignorando Clarissa, que me chamava.

Assim, finalmente escapei da aula e dele.

Enquanto eu descansava a cabeça contra meu armário, respirando fundo, uma mão bateu bem acima de mim, fazendo-me pular de susto.

Era a única pessoa que eu estava tentando evitar...

Hayden McAndrews.

"E aí, coelhinha. Sentiu minha falta?", disse ele, com seu sorriso característico.

Meu Deus!

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