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Leona Medeiros ODIAVA... Não, ódio é uma palavra muito forte. Parece até um certo Uchiha falando. Leona DETESTAVA muitas coisas, e uma delas era acordar cedo. Por que raios inventaram aula às 7 da manhã? Mas lá estava ela, se levantando para o primeiro dia de aula do último ano do ensino médio, em uma cidade pequena chamada Passos. Fica próxima a uma cidade chamada Araçás, no estado da Bahia.

Toda aquela expectativa que ela criara sobre quando chegasse esse momento, havia sido frustrada há tempos. Líderes de torcida, jogadores lindos, pessoas cantando músicas aleatórias com coreografias

no refeitório

e os outros acompanhando, bailes, um macho literário bonito que gostasse dela... Ah, por favor, estamos no Brasil! A realidade é outra.

Às seis da manhã, Leona já estava se posicionando lindamente na mesa para comer alguma coisa, antes de sair com sua mãe Suzana.

- Bom dia, filha.

- Bom dia, Mãe! Que mesa fantástica! Obrigada meu Deus!! – disse Leona, exageradamente feliz. Se tinha uma coisa que a deixava assim era uma boa e saborosa comida.

- Eu vou precisar ir um pouco antes do horário pro hospital, então não vou poder te dar carona. A não ser que queira ir mais cedo.

- Não, tudo bem. Eu vou de ônibus mesmo.

- Ok então. Tenha um bom dia, e até a noite.

Suzana deu um beijo na filha e saiu para o trabalho. Ela era enfermeira. Quando não tinha plantão, tinha reuniões um pouco mais cedo. Às vezes Leona só a ouvia chegando e preferia não ir incomodar a mãe. Trabalha em dois hospitais importantes da cidade. Ela sempre chegava cansada. De ajudar, de salvar vidas... Leona se orgulhava muito da mãe que tinha. Enquanto tomava seu muito bem feito café da manhã

pão quentinho com bastante queijo e manteiga, além de bolos e ovos

, Leona pensava se haveria algum problema em NÃO COMPARECER A AULA HOJE. Todo ano era a mesma coisa, as mesmas caras, só que com um pouco mais de espinhas , um ou outro aluno novo, conhecer a nova sala de aula, matérias e professores que são um saco... Será se a mãe dela reclamaria muito? Melhor não pagar pra ver. Dona Suzana era um amor, porém pegava muito no pé na questão dos estudos. Ela sempre queria saber das notas, como eu estava me saindo... Melhor eu ir. Nunca tem nada mesmo.

Outra coisa que fazia parte das muitas coisas que Leona detestava: adolescentes. Apesar da ser uma, sua paciência para essa espécie de criatura era mínima. Por isso era bastante comum encontrar Leona conversando com os mais velhos. Ela sempre aprendia algo novo e necessário. Por exemplo: um rapaz bonito, antigamente era chamado de “Pão”. Fantástico! Enfim, vai que ela encontre um pão hoje, só pra variar. Não que ela esteja esperando muito desse dia. Ou desse ano. Até que ela não se incomoda tanto com a monotonia. Achava.

No ônibus, um alívio, Leona encontra seus melhores amigos: Mey e Nicolas. Eles se conhecem desde a infância. Sempre estudaram juntos. Inseparáveis. Mey era extremamente sociável. Um doce, sincera, comunicativa, extrovertida, inteligente e alta. O Nick era a versão masculina da Mey, exceto pelo fato dele não ser tão sociável quanto ela. Ele se sentia mais a vontade com quem conhecia. Assim como ela. O trio do equilíbrio. Antes que ela pudesse se sentar, a Mey começou:

- Amiga, estou tão animada! Tem noção? Último ano do ensino médio! Me sinto tão adulta!

- Ah, por favor, Mey. Não começa. Ser adulto requer bem mais do que o último ano do ensino médio. – soltou Nick.

- Vai me dizer que você também não está animado? Eu te conheço Nicolas Carvalho. Tá aí todo empolgadão por dentro. Os três riram porque sabiam que era verdade.

- Então Leo, desistiu de ir com a tia Suzi? – perguntou Nick.

- Na verdade ela precisou sair mais cedo hoje, aí...

- Jurei que você tinha desistido pra ir com a gente. “Perplequita!”– disse Mey.

- Para, vocês sabem que eu prefiro ir no isolamento do carro da minha mãe. Mas também amo estar com vocês e, olha só! Estou aqui. É o que importa, e me respeitem.

Eles riram novamente. Era sempre assim com eles. Tudo o que deixaria a ida para um novo colégio e para uma nova etapa da sua vida mais fácil, estava bem ali ao seu lado. Contanto que Leona tivesse eles, tudo ficaria bem.

Leona, Nicolas e Mey ficaram na mesma sala, mais uma vez, para alívio dos três. Às vezes acontecia de alguns amigos se separarem. Isso provavelmente não aconteceu devido as idades próximas deles, e pela conspiração universal para que ela pudesse ficar com os únicos adolescentes suportáveis. Enquanto eles conversam sobre as férias e seus planos, seus colegas iam chegando. Eles conheciam a turma toda, só não eram próximos a todos eles. A turma era aquela típica. Tinha o bagunceiro: o Mateus. Azucrinava a mente de todo mundo, inclusive dos professores. Tinha o grupinho dos estudiosos: Fernanda, Pedro, Larissa, Camila e Arthur. Tinha a turma intermediária, que estudava e bagunçava de vez em quando: Patrícia, Luís, Eric, Cíntia, Veridiana e Filipe. Tinha o grupo dos engraçados da turma: Daniel, Alice, João, Fagner, e o Nick também fazia parte dessa equipe sempre que tinha oportunidade. Então, vinha o trio das ricas do país, do universo e da galáxia. As insuportáveis. O trio P.Q.R: Pamela, Queila e Renata. Elas nem eram tão ricas assim, tinha condições financeiras melhores, claro. Mas eram um saco. O maior exemplo do porquê eu não gostava muito de adolescentes. E elas eram lindas, padrão, o desejo universal. Saco, saco, saco.

Enquanto todos se colocavam em suas posições na sala, Leona notou que o grupo intermediário não estava completo, ou seja, vai ter gente nova na área. O trio P.Q.R foi o último a entrar, e não costumavam falar muito com a turma, somente o necessário. Mas o Mateus não deixava passar nada.

- Bom dia, majestades! – disse ele.

- Ai Mateus, uma hora dessas, não enche! – respondeu Pamela.

- Bom dia gente! – disse Renata.

- Bom dia. – respondeu a turma em uníssono.

Então elas se sentaram na frente, como sempre. Três cadeiras sobrando. Foi aí que entrou a beldade, um preto de olhos verdes, boca absurdamente rosa, devia ter quase 1,80m

o que era um absurdo para a provável idade dele

, e dava pra perceber que malhava.

- Eu fico fraca, fraca – soltou Mey com uma risadinha sapeca.

- Mulher, se controla. Me ajuda! – disse Leona.

- Não vi nada demais. Eu também sou alto e malhado e, vejam só, pura melanina. – disse Nick fingindo não se importar com a animação das amigas.

- Mas você é nosso amigo. Lindo, mas nosso amigo. Jamais olharíamos dessa forma pra você. – largou Mey.

- MEY! – disse Leona.

- Tudo bem, Leo. Eu já estou acostumado com essa fofura da Mey. Ele deve ter chulé.

- Eca! – disseram as amigas em uníssono. Se tinha uma coisa que quebrava todo o encanto, era chulé.

- Bom dia! – disse o novato da turma.

- Bom dia! – todos responderam como um coral.

O grave da voz dele... Ai ai. Fraca, fraca.

Em seguida, entrou uma menina. Bonita, cabelo médio, devia ter quase a mesma altura da Mey

1,69m

. Sentou um pouco mais próximo a gente, então a Mey começou:

- Ei, Oi. Meu nome é Mey, esses são meus amigos: Leona e Nicolas.

- Mas pode me chamar de Nick, se quiser. – disse Nick com aquele sorriso perfeitamente alinhado.

- Olá, tudo bem? – disse Leona.

- Oi, tudo bem. – falou a menina.

- Qual o seu nome? Você é da cidade? Quantos anos você tem? Você gosta de...

- MEY! – disse Leona e Nick ao mesmo tempo.

- Cara, ela se empolga muito. Isso não é uma investigação, Mey. Desculpa. Então, qual seu nome? – perguntou Leona à garota.

- Meu nome é Taymara Santos da Costa. Eu sou da cidade mesmo, só estudava em um colégio diferente do colégio anterior de vocês. Tenho 16 anos. E gosto de açaí.

- MEU DEUS, COMO VOCÊ SABIA? – disse Mey toda empolgada.

- Eu acho que essa pergunta é extremamente essencial num primeiro contato. Se a pessoa não gosta de açaí, a gente desconfia logo. – todos eles riram.

Taymara logo se enturmou com eles, apesar de chegar toda tímida, tinha a mesma vibe deles. Já estavam sentados próximos. Nick e Leo sentados nas últimas carteiras, Mey e Tay

era assim que chamavam ela agora

nas carteiras à frente deles. Enquanto Taymara explicava que decidiu ir para aquele colégio porque era mais próximo do trabalho da mãe, um professor entrou na sala.

- Bom dia turma! – disse o professor

- Bom dia! – responderam todos enquanto se organizavam.

- Meu nome é Silas Cabral, sou professor de português, e até aonde sei, não sou parente de Pedro Álvares Cabral. – Alguns riram dessa piada dele, tipo, sério?? - Vejo que vocês estão bem animados, em?

Foi quando começou o burburinho dos alunos. Uns dizendo que não, outros que sim.

- Ok, ok. Vocês provavelmente se conhecem, mas eu preciso conhecê-los. Vamos começar as apresentações?

Era um saco isso. Eu nem queria estar ali, “queria ser uma nuvem”, já dizia um grande poeta. Começou pela frente, e por fim terminou com a turma do fundão.

- Agora que já conheço vocês e não lembro o nome da metade, gostaria que vocês fizessem um pequeno texto, de no mínimo 15 linhas, contando como foi as férias. Esse texto me dará um norte de como vocês estão na escrita e na leitura. Acreditem, vou exigir boa escrita e leitura de vocês, mas pra começar, quero avaliar como que vocês chegaram até mim. Ok?

Mateus levantou a mão.

- Diga...?

- Mateus. – disse Mateus.

- Diga Mateus.

- Eu não trouxe caderno.

- Todo ano isso, bicho. – disse Daniel.

- Não tem problema, uma folha só serve. Alguém poderia dar uma folha ao colega?

- Aqui Mateus! – disse Cíntia, sempre prestativa. Mateus foi pegar a folha destacada, então a turma começou fazer o texto.

Leona não tinha muito o que contar, ela gostava de lugares específicos. Ir para a casa dos avós maternos, por exemplo, já que ela não conhecia o pai ou qualquer pessoa relacionado a ele. De vez em quando viajava com a família dos amigos, mas sempre preferia estar em casa. Era seguro, confortável, familiar e calmo. Sem aglomerações. Ela detestava mentir e mentiras. Leona ficou exatamente duas semanas sem falar com Mey depois que ela mentiu sobre qualquer bobagem que ela nem lembrava mais. Depois disso, eles fizeram um pacto de jamais, em hipótese nenhuma, independente do que fosse, mentir um pro outro. Então, ela escreveu o que realmente fez nessas férias. Ler, ir ao cinema, ir na lanchonete, ler, fazer aula de pilates, pôr as séries em dia, ler... Enfim. Para uns poderia soar chato, mas para ela era... Confortável.

Após entregaram os textos ao professor, ele liberou a turma. Afinal, era o primeiro dia. Estava tudo na paz. Ainda. Geralmente eles conheciam dois ou no máximo três professores no primeiro dia, e nunca tinham aula.

- Vamos procurar nossos “PIA”? – soltou Mey, do nada.

- Pia? – perguntou Tay.

- Invenção delas. – disse Nick revirando os olhos – Todo lugar que chegam, fazem isso.

- E você sempre está com a gente, né? Que coisa. – disse Leona abraçando o Nick, enquanto ele fingia não querer o abraço.

- Você deve estar se perguntando o que diacho é PIA. – começou Mey, direcionando-se para a “novata do trio”. – PIA significa Pontos Importantes do Ambiente. São locais que as pessoas não ligam muito, então está quase sempre mais vazio do que o costume, logo, se torna o lugar perfeito pra gente.

- Ah. – disse Taymara, processando tudo. - Interessante.

- Não é, menina? Eu acho super diferente e original. Não existe isso em nenhum outro lugar no mundo. – falou Mey, toda orgulhosa.

- Na verdade, deve ter sim. Só que não com esse nome SUPER criativo. – Nick amava jogar um balde de água fria na Mey, só pela cara que ela fazia.

- E tem coisas que nem precisam de nomes. As pessoas vão, fazem e acabou. – soltou Leona.

Então os quatro decidiram passear pelo colégio para conhecer os “pontos importantes do ambiente”. Eles faziam isso em absolutamente todos os lugares, vai que tinha algum lugar que as pessoas não se importassem muito? Automaticamente, já era ótimo pra eles. No colégio haveria pontos importantes novos. Biblioteca, algum canto distante do pátio, ou alguma sala inativa. Vai saber. Encontraram uma mesa bem escondida no fundo de um projeto de biblioteca

o que é que custava ter uma BOA biblioteca com um BELO arsenal de livros? Brasileiro sofre

, um canto maneiro no pátio, e uma milagrosa sala inativa. Geralmente os colégios públicos não são tão grandes, e as poucas salas que têm eram todas usadas. Mas, aconteceu. Tinha um monte de carteiras velhas, e tudo que precisavam fazer era pegar amizade com os seguranças, para não barrarem eles de ficarem na sala.

Agora que estava tudo resolvido, todos estavam aguardando o horário de ir embora. Hoje a Leona e o Nick iam almoçar na casa da Mey. Ano retrasado tinha sido na casa da Leo, ano passado, na do Nick. Meio que se tornou um “costume” deles. Fora qualquer outro dia aleatório que marcavam alguma coisa juntos. O sinal soou, e as porteiras se abriram. Hora de ir. Foi o primeiro dia do “dias de luta”. Leona agora estava feliz e esperançosa. Será que a tia Vanda fez lasanha?, pensava. Ela amava a lasanha da tia Vanda.

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