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Quinze anos atrás.

— Vou me casar! — Olho para minha mãe, esperando sua resposta.

Ela me encara com a boca aberta, incrédula.

— Eu acho que não ouvi direito, Melissa. — Ela fala com aquela cara de quem está tentando controlar seu temperamento.

Meus sinais de alerta soam imediatamente. Conheço o temperamento da mulher em minha frente que, por sinal, é bem diferente do meu.

Ela vai querer explicações para isso e eu não estou preparada para lhe dar o que ela quer agora. Talvez, eu nunca estarei preparada para explicar para alguém porque tomei essa decisão, mas não existe outra saída para mim.

Na verdade, existe, Melissa!

Minha consciência fala. Mas minha consciência ainda é de uma pessoa sonhadora.

Embora os meus sonhos tenham sido esmagados, sendo totalmente invalidados — e, claro, meu lado racional faz questão de esbofetear minha cara para que eu me lembre disso —, sei que há em mim a vontade de voltar atrás, a vontade de correr para ele e contar tudo que ele tem o direito de saber.

No entanto, ele é uma pessoa horrível, um cretino, alguém que nunca mais quero ver na minha frente novamente. Com esse pensamento, digo novamente à minha mãe:

— Eu. Vou. Me. Casar!

Repito pausadamente, sentindo como se as palavras doessem a cada vez que as afirmo em voz alta.

— Você. Não. Vai. Não! — minha mãe repete, usando as mesmas pausas que eu.

Ótimo! Sabia que isso não seria fácil.

Respiro fundo. Preciso manter a calma e parecer segura o bastante com a minha decisão. Coisa que não estou.

— Não é um pedido, mãe. É uma informação. A senhora é minha mãe e precisa estar ciente das decisões que tomo em minha vida, mas isso não é um pedido.

Ela pisca várias vezes. Não sei de onde veio essa coragem de falar assim com ela, porém, ultimamente, eu não tenho sido eu mesma.

— Você só pode estar querendo matar sua mãe do coração! É a única explicação! — ela exclama em resposta. Percebo que seu tom vai de surpresa para raivosa.

Campo minado, Melissa. Cuidado!

— Você nunca teve um namorado antes de Daniel! Faz o quê!? Três semanas que você me apresentou ele!?! Agora você vem com essa de que vai se casar? Você só pode estar louca, menina!

— Eu não estou louca! — respondo, tentando parecer calma enquanto minha mãe tem um ataque de nervos.

Me sinto culpada. Eu não deveria esconder dela as coisas que me aconteceram no último mês. Contudo, só de pensar em lhe falar a verdade me dá um frio na espinha. Se ela acha essa minha decisão uma loucura, não quero nem saber como vai me olhar se souber de todas as coisas que fiz.

Me tornei uma enorme decepção

— Você está grávida? — ela inquire, enquanto analisa meu corpo.

Ora essa, era só o que me faltava…

— Claro que não! — respondo, me sentindo horrorizada. Engulo em seco. De onde ela tirou isso?!?

Ela não pode saber. Não pode. Tenho um acordo com Daniel, meu futuro marido. Um mês. Um mês e abrimos o jogo sobre tudo. Porém, conhecendo a mãe que tenho, isso será um desafio.

Talvez, ela me conheça mais do que imagino.

— Melissa Maria Vasconcelos, olhe nos meus olhos e me diz que não está grávida.

Oh, droga! Ela disse meu nome completo. Agora o pavor toma conta de mim. Tento manter a calma. Qualquer sinal de hesitação e ela pode perceber. A vontade de engolir em seco vem com força. Contenho.

— Eu não estou grávida, mãe! — afirmo, com veemência. Ela me encara com um olhar mortífero.

Seja corajosa!

Minha consciência ordena.

— Então, para quê casar agora? Você ainda é uma menina!

— Já vou fazer dezoito anos daqui a dois dias, por sinal.

— Você poderia ter trinta e eu ainda acharia você jovem demais para prender sua vida a alguém desse jeito.

Bufo. Minha mãe arregala os olhos, assim como eu. Também estou surpresa com minhas atitudes. Se meu pai presenciasse tal ato de minha parte, morreria novamente. Afinal, eu era a filha perfeita. Nunca havia levantado a voz ou bufado, como se as palavras de minha mãe fosse algo inútil e entediante.

Porém, ignorando o sentimento de culpa que me corrói por dentro ao fazer isso com a mulher que me trouxe ao mundo, falo:

— Não preciso saber o que a senhora acha. Sei que é o melhor para mim. E agora, o melhor é me casar com Daniel. É o que quero e é o que vou fazer. Se a senhora não quiser estar do meu lado nesse momento… não posso fazer nada.

Respiro fundo.

Minha garganta se fecha com o olhar magoado de minha mãe, mas sem dar nenhuma hipótese a ela para revidar minhas palavras ou me fazer mudar de ideia, vou para meu quarto e tranco a porta.

Sinto muito, mãe…

Meu coração, já destroçado, se torna ainda mais danificado com a ideia de saber que minhas escolhas podem deixar a pessoa que mais me amou magoada.

Me encosto na porta e deixo meu corpo deslizar na madeira até chegar ao chão. Quero chorar. Chorar até as lágrimas não saírem mais. Chorar até esquecer o que ele me fez.

Eu o odeio com todas as minhas forças.

Como ele pode? Como pode ser capaz de fazer o que fez?

Se não fosse Daniel…

Sei que irei aprender amá-lo, algum dia.

Tudo vai dar certo.

Ao menos, é o que espero…

Mas ele não sai dos meus pensamentos, não importa o que faça. Não consigo esquecê-lo.

Eu o amei!

Ele me usou.

Agora, estou prestes a entregar meu destino ao acaso. Não sei o que virá. Só quero pensar no agora. E o agora me diz para esquecê-lo. O agora me causa náuseas e me mostra que, quando entregamos nosso coração, entre outras coisas, a um canalha, ele pode te decepcionar e parti-lo em mil pedaços.

E foi o que ele fez.

Ele me usou da pior maneira, acabou com minha autoestima e destruiu meus sonhos. Eu jamais esperei que ele pudesse ser tão baixo, nunca irei perdoá-lo.

Thomas, eu te odeio!

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