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Fechando o notebook pela decima vez nas últimas 3 horas - segurei um grito frustrado que estava preste a surgir.

— Liana, você ta me ouvindo? – questionou Ava.

Parecendo incomodada com minha falta de atenção a sua aventura da noite anterior e deitada em minha cama na posição mais jogada que encontrou. Ava virou o rosto levemente para me olhar com seus olhos afiados constatando o óbvio de como eu parecia frustrada.

— Sinceramente? Não, eu estava com a cabeça em outro lugar – respondi honestamente.

Olhando pela enorme janela do nosso apartamento, que pago mais caro apenas para ter essa vista de inspiração, com um belo pôr do sol que já me inspirou diversas vezes e agora parece debochar de mim.

— Você está com bloqueio Li? – questionou Ava inclinando levemente a cabeça demonstrando interesse, era preciso ela é a publicitária dos meus livros.

— Sim, e dos grandes – respondi — eles estão me cobrando novamente pela grande novidade que ainda não existe.

Ava sentou e me encarou por alguns segundos séria antes de soltar:

— Você precisa transar.

— Ava, pelo amor de Deus, o que isso tem a ver com o meu problema de escrita?

— Tudo! Como você vai escrever sobre algo que nem deve se lembrar como faz? E isso também está envolvido com a criatividade, Li!

— Não tenho tempo pra isso – olhei para o notebook novamente pensando se o abria novamente na esperança de surgir alguma inspiração.

— É por isso que eu te conto minhas histórias pra te dar inspiração, mas acho que você precisa viver. Ontem foi demais e você nem tentou ir! – Ava não conseguia esconder sua animação enquanto falava que se jogou novamente na cama.

— Vou na próxima, prometo. – falei olhando para o chão cabisbaixa.

— Sei. — Ava me lançou um olhar desconfiado

Ela vivia, isso era verdade, conhecia gente, não tinha medo de se jogar, mesmo que seja minha publicitaria , nunca vi ninguém tão ousada. Com seus longos cabelos loiros e ondulados e grande olhos pretos, chamava atenção em qualquer lugar. Sentia admiração pela amiga, mas ser assim envolvia muita liberdade da qual eu nunca me permiti ter.

Olhei de leve para o espelho pequeno ao lado da mesa, conferindo se a máscara de argila estava seca. Meus olhos verdes encaravam os cabelos pretos presos por uma faixa para me impedir de derramar argila nos cabelos também.

— ... então ele me trouxe aqui na porta e... — Ava parou de falar ao ouvir o celular vibrar ao seu lado, olhando para o aparelho, sorriu ao falar — Falando nele... – enquanto respondia perguntou — O que você acha de um programa noturno sábado? Você está me devendo por ontem, e pela sua agenda, após o encontro com as fans na livraria do centro você está livre!

— Tudo bem, eu vou – respondi evitando de sorrir da insistência em me levar para ver o mundo pra não estragar a mascará quase seca. — Vou me arrumar par jantar com meu pai hoje, você ta convidada se quiser Ava.

Prontamente Ava se levantou respondendo,

— Não mesmo, obrigada, ainda estou passando mal da última vez. – informou passando a mão em sua barriga.

Finalmente, não e acabei rindo aguentei ao lembrar.

— Meu pai certamente sabe animar uma festa. E hoje pelo visto o assunto era importante.

Suspirando levemente me levantei para começar a me arrumar, um começo nó se formando em meu estomago. Caminhei até o banheiro para tirar a argila na pia, antes de seguir para o banho. Ouvi Ava caminhando em direção a porta.

— Bom, vou indo então, tenho um compromisso que vai levar até o café da manhã se tudo der certo, então não me espere acordada, te mando localização, amo você!

— Também amo você, cuidado! —Consegui gritar com a toalha ainda secando o rosto.

Tomei um banho rápido, sabendo que só iria piorar se eu me atrasasse. Meu pai é tudo pra mim, após a morte da minha mãe ele é a única família que eu tenho, mesmo sendo extremamente rigoroso, eu consigo entender, ele precisou batalhar muito e após sair do ramo da política ainda se dedicava ao aconselhamento do partido para novos candidatos, tudo que fosse necessário para cuidar de mim e do meu irmão Ethan.

Escolhi um vestido preto perfeito para um encontro com o pai no restaurante duvidosamente caro de sempre. Ele se preocupa com a aparência que nós demonstrávamos em público, eu ainda me lembro da bronca que o Ethan levou da última vez que foi desleixado a um jantar com meu pai.

Dando uma última olhada para o espelho, o vestido preto não era colado o suficiente para revelar nada, mas deixava claro as curvas do meu corpo, um salto fechado preto para essas ocasiões, maquiagem leve dando destaque aos olhos, meus cabelos presos em um coque aceitável dava um toque sofisticado ao restante do look. Estava pronta, mas desanimada e tensa para a reunião.

— Vamos lá então, tchau Wallie cuide de tudo e nada de festas na nossa ausência – falei para o gato que nem virou para me olhar.

Esperando o elevador chegar, pensava em como poderia começar a escrever sobre o novo tema escolhido por minha editora, eles querem algo mais hot, mas nem imagino como posso começar. Conferi o celular para verificar se Ava tinha enviado alguma mensagem. A porta do elevador finalmente se abriu, antes que pudesse entrar, viu uma cena que me fez corar e travar no lugar.

Uma mulher, com o cabelo na altura dos ombros ruivo como sangue arrumava a blusa demonstrando claramente o que estava do lado de fora, me encarava claramente irritada com a situação. O homem ao seu lado, certamente um dos homens mais bonitos que já tinha visto, alto e esbelto em seu terno preto justo, ainda no lugar, dando deixas para minha boa imaginação. Sua maçã do rosto demarcadas, um maxilar definido e os olhos cor de mel que me encaravam claramente não demonstrando nenhum desconforto com a situação, um começo de sorriso se formando em seus lábios. Percebi que estava encarando quando as portas do elevador começaram a fechar, antes que pudesse ficar aliviada por sair dessa situação, o homem esticou a mão para o botão de abrir a porta.

— Não vai entrar? – Sua voz grossa me tirou do transe.

— Vo— Vou sim – falei gaguejando, claramente a única realmente envergonhada nessa situação. Conferindo se o botão do térreo estava apertado virei de costas para o casal, se eles queriam continuar pelo menos não vou ficar olhando. Nunca pensei que veria esse tipo de situação ao vivo.

A mulher bufou do meu desconforto visível. Respirei fundo, endireitei a postura, claramente não era eu quem deveria estar desconfortável e mesmo que precisasse fingir eu não iria demonstrar.

— Por favor, você sabe que eu preciso disso, Ares! O Dion disse que... – prosseguiu a mulher, escolhendo me ignorar.

Antes que pudesse continuar o homem a cortou, não demonstrou emoções em sua voz grossa.

— Eu não ligo para o que o Dion quer, se quer me... – fez uma breve pausa— convencer sabe onde me encontrar para falar de negócios, ou sabe quem procurar para pedir favores, Pamela.

O elevador finalmente chegou ao térreo. A mulher ruiva saiu batendo seus saltos esbarrando em mim com sua bolsa, quase me desequilibrei, mas senti um toque quente em minhas costas e me equilibrei rapidamente, fingindo que o toque não piorou a situação em meus sentidos, sem coragem de olhar para trás apenas dei um passo para fora.

“Preciso sair daqui” – pensei e segui caminhando pelo mesmo lugar que a moça ruiva de antes.

Na rua, peguei o primeiro taxi praticamente aos berros – me recusava a esperar mais um segundo e acabar ficando parada na rua com o homem.

Consegui recobrar os sentidos antes de sair do taxi, estava perto do horário combinado, o que me daria alguns minutos para um drink antes do grande encontro. Sentei no bar pedindo ao Rick o garçom que já me reconhecia de outros dias.

— Boa noite, Liana, vai uma dose de coragem hoje?

— Com certeza, mas nosso tempo hoje é curto – Rick acenou sabendo exatamente o que significa me servindo uma dose de tequila.

Poucos minutos se passaram até avistar meu pai entrando, sua presença pouco passava despercebido, era alto, eu claramente tinha a quem puxar, com olhos verdes, a idade claramente o fez bem, poucos fios grisalhos apenas combinavam mais e lhe davam ar de sabedoria. Com seu leve sorriso ao rosto, cumprimentando os conhecidos que jantavam, chegou a mesa e me lançou um olhar me indicando para me aproximar.

— Me deseje sorte Rick – falei ficando em pé, Rick deu um pequeno aceno com a cabeça demonstrando toda sua educação.

Caminhei em direção a mesa, do modo que fui arduamente ensinada em minhas aulas de postura e etiqueta de quando meu pai estava eleito. Cheguei próximo a mesa dando um abraço leve.

— Veio sozinho pai? – perguntei enquanto me sentava – Achei que a Vivian viria.

— Hoje não – respondeu acenando para o garçom – Peixe, para mim e salada para Liana.

— E vinho, por gentileza, Lambrusco. – Adicionei sem demonstrar emoções em meu rosto, ele sempre pedia por mim e Deus sabe como eu gostaria de jogar essa salada pela janela, sabia que era cuidado, mas esse controle era incomodo. Agradecia a Gian por cuidar para que a salada venha mais caprichada o possível.

— Vamos direto ao assunto Liana – começou a falar assim que sua bebida chegou , não era um homem de rodeios com a família, guardava jogos para os inimigos – Ethan se casou recentemente com a bela Giovana e eu quero saber quais são seus planos sobre esse assunto.

Droga, a conversa seria sobre isso. Ele sabia que não havia ninguém, após meu término com Vitor, passei longe de outros homens isolada escrevendo meu último livro lançado “Quando ele se vai”, agradeço a Ava todos os dias por me fazer escrever meus livros com um apelido ou não poderia escrever com tanta liberdade sem irritar meu pai.

— Por que quer saber sobre o assunto, pai? – falei dando um enorme gole em meu vinho. – Sabe que terminei a pouco tempo com Vitor Amov.

— Ah, ele era um bom partido, uma pena de fato – disse lamentando.

— Pai, um bom partido? – questionei indignada — Ele me traiu com a sobrinha de Vivian, inclusive eles estão noivos!

— Preferia ele com você, ele teria te perdoado se você tivesse pedido desculpa... pelo menos ele ainda será parte da família, sabe que mesmo com esse detalhe ele teria cuidado bem de você Liana, eu não vou viver para sempre e seus livrinhos também não podem continuar por muito tempo.

Segurei a taça com força, sentindo mais raiva por como ele falava do meu trabalho do que, como ele falava do meu ex, tentava pensar nisso como uma tentativa de se preocupar comigo, mas que me machucava. Não respondi, mantive o silencio esperando ele ir direto ao assunto.

— Por isso – disse ele sorrindo mais ainda – eu quero lhe apresentar alguém, um bom rapaz filho de uma empresa grande acabou seu noivado recentemente. Marcarei um jantar para vocês se conhecerem.

— Na verdade pai, eu estou saindo com alguém, estamos nos conhecendo ainda, mas quem sabe...

Com seus olhos de um bom negociador meu pai não engoliu minha mentira.

— Marcarei o jantar para o começo do mês que vem então, mesmo que você esteja conhecendo alguém não pode deixar um desses solto por muito tempo. Te enviarei o local e horário. – Encerrando o assunto.

Sem chance de protestar, sabia o que estava por vir, encontros com palermas engomados que só sabem falar de negócios e tratam as secretárias como amante. Como é que eu vou conseguir escrever meu livro se vou começar a sentir mais horror ao tema do livro?

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