PATRICIA.

A risada ressoa em meus ouvidos, mas não há nada de alegre nisso. Está cheia de maldade e escárnio.

"Vamos lá!"

"Ah, qual é, está muito assustada?"

"Você deve ser a mulher do chefe, não é? Muito fraca?"

Congelo, de pé, entre meu namorado e seus homens. Eles estão torturando alguém que nem mesmo reconheço em sua forma de lobo, mas não é nada novo, isso é usual para eles. Sempre tento ignorar seus modos e me manter fora de seus negócios. Tentando focar no que há de bom nele, mas hoje, eles esperam que eu me junte a seus jogos doentios.

Não quero fazer isso, olhando para a massa ensanguentada no chão, meu estômago revira. Isso não deveria acontecer.

"Só puxe o gatilho." Sua voz está vazia de emoções, seus frios olhos turvos encontram os meus enquanto ele me passa a arma.

"Eu... Eu não estou tão certa sobre isso, não é o que você me disse." Respondo calmamente, apesar de meu estômago estar retorcendo de nervosismo.

"Nem mesmo para mim, minha pequena?" Enquanto o resto de seus amigos me encoraja, ele inclina a cabeça e olha para mim.

Encaro a arma, tentando entender como cheguei aqui…

Mas não sei quando caí neste relacionamento tóxico. Não sou alguém que precisa de simpatia, nunca fui uma pessoa que não consegue dormir à noite devido aos meus demônios. Estou sempre despreocupada, indiferente e selvagem. Adoro me divertir, me apaixonar pelos garotos bonitos da minha turma ou qualquer Alfa atraente que cruze o meu caminho. Mas agora... me vejo revirando e virando, tentando afastar os pesadelos que meu suposto namorado me arrastou.

"Por favor, vamos esquecer isso." Tento minimizar a situação, envolvendo meus braços em volta do pescoço dele e esperando que ele me escute.

Seu aroma enche meu nariz, misturado com o cheiro de cigarros e drogas. Suas mãos acariciam minha cintura e tento me lembrar do homem por quem me apaixonei.

Por onde ele andou?

"Esquecer o quê? Ah, você não se lembra do que ele te chamou? Deixe-me reformular isso, minha pequena, você não quer ser a excluída, quer? A estranha... A deslocada... A aberração?" Seus olhos brilham nos meus, seu tom é um sorriso frio de escárnio.

Aberração.

Meu coração bate forte enquanto olho para o maldito lobo sangrando no chão.

Eu não sou uma aberração.

Eu sou Patricia, filha do anterior Alfa do Bando da Lua Sangrenta. Embora eu seja uma criança que nasceu de uma forma que brincava com as próprias leis da natureza, não sou uma aberração.

Eu deveria estar morta, mas não estou.

"Aberração. Aberração. Aberração" Seus homens começam a cantar, apenas fazendo a raiva crescer dentro de mim. Ele sorri, sabendo que está me afetando, fazendo-me afastar do seu aperto, meu coração palpita violentamente enquanto arranco a arma da sua mão.

Lembro-me de quando era criança e não entendia por que não gostavam de mim. Ocasionalmente havia crianças na Matilha sussurrando nas minhas costas, mas elas não se atreviam a fazer nada comigo porque eu sou filha do Alfa deles

Alfa

. Além disso, eu não era alguém com quem mexer, sempre fazia sofrer quem tentava me machucar ou quem eu amava.

No entanto, há um nome que nunca me deixou - A Aberração.

"Faça isso."

Olho para o meu namorado, ele sabe que eu odeio esse termo, mas ainda o usa... A culpa é minha, eu sou a quem foi cega o suficiente para contar a ele meus segredos mais profundos.

"Tudo bem." Cuspo enquanto me viro, cumprir sua ordem e levanto a arma.

O que eu deveria fazer?

"Atire nele, amor." Sua voz tranquila, pontuada com um aviso mortal, vem bem atrás de mim.

Minha mão treme enquanto olho para o lobo que chora no chão.

Sua respiração é tão superficial...

Não há lógica que torne isso aceitável.

Não vou fazer isso, mas a vontade de virar e atirar no meu namorado, me tenta.

Abaixo minha arma, a risada desaparecendo enquanto um silêncio tenso cai sobre meu ato de desobediência.

"Eu não vou-"

Eu engasgo quando algo bate em mim por trás, me fazendo puxar acidentalmente o gatilho, o corpo no chão estremece antes de parar

"Não!" Eu grito, largando a arma, enquanto corro para o lado do lobo.

Não, não, não!

Risos me seguem quando olho para o lobo à minha frente, não consigo sentir seus batimentos cardíacos, mas ele nem mesmo muda para sua forma humana. O que quer que essas balas contenham, é mortal, é tão rápido que ele nem conseguiu mudar de forma.

"Por quê, Romeu!" Eu grito.

O silêncio cai enquanto olho para o homem que está ali, com seus olhos frios em mim. Embora ele não diga nada, a raiva em seus olhos faz meu sangue gelar. Ele odeia ser desrespeitado.

"Não fale comigo desse jeito." Ele sussurra ameaçador, enquanto se dirige a mim. Agarrando um punhado do pelo ensanguentado do lobo, ele levanta seu corpo do chão em um movimento só. "Você fez isso." Com essas palavras, ele joga o pesado corpo do lobo morto em cima de mim, o peso esmagando minhas pernas.

"Você sente pena dele? Aqui, tome conta dele!" Ele rosna enquanto o encaro de volta. Minha raiva aumenta à medida que tento empurrar o corpo do lobo para fora de mim. "Quem disse que você pode levantar, minha pequena?"

"Isso não é uma piada! Eu terminei com você e suas maneiras doentias." Eu cuspo ressentida.

Ele não é diferente de todos os outros, na verdade, ele é pior.

Seus olhos escurecem e ele agarra um punhado do meu cabelo.

“Oh, não terminamos até que eu diga que terminamos.” Ele rosna ameaçadoramente.

“Você não é meu dono e eu não sou seu animal de estimação!” Eu sibilo, olhando para ele em desafio.

Ele simplesmente ri alto, como se minhas palavras infantis o divertissem, mas eu sei melhor. Ele está mais do que enfurecido; acabei de desrespeitá-lo na frente de seus homens. Ele não vai perdoar isso.

"Sim, eu irei. Eu terminei com você. Cuspo, meu coração batendo forte de raiva.

Ele puxa minha cabeça para trás violentamente e, com a mão com que tinha agarrado o lobo, esfrega o sangue em meu rosto, antes de me empurrar bruscamente no chão.

"Acho que está na hora de mostrar a quem exatamente você pertence.” Ele cospe enquanto me bate no rosto, fazendo minha visão escurecer...

-

Eu me ergo na cama, meu corpo inteiro está encharcado de suor enquanto as lembranças daquela noite enchem minha mente mais uma vez. Meu coração está batendo violentamente enquanto olho ao redor e levo alguns instantes para perceber que estou em meu quarto. Seguro.

Respirando fundo, saio da cama e caminho até o banheiro adjacente, jogando água no meu rosto.

Já faz um ano desde que me afastei do meu ex tóxico, um ano desde que pensei que tinha acabado com ele de vez. Até dois dias atrás recebi um vídeo daquela noite com a mensagem: ‘Lembre-se que eu sei o que você fez’.

Meu estômago dá um nó, me sinto enjoado enquanto as palavras ressoam na minha cabeça.

Eu fecho a torneira e respiro fundo, retornando ao meu quarto.

Estou segura aqui... certo?

Não importa quantas vezes eu pense sobre isso, não sei como me envolvi com ele.

A pior parte é que se meus pais soubessem, ficariam mais do que decepcionados comigo, e a coisa que mais odeio é decepcioná-los.

Mesmo que meus pais não sejam mais os Alfas, com meu irmão tendo assumido, eles ainda são altamente respeitados, sua reputação é conhecida em todo o país e papai está no Conselho do Rei Alfa. Ele também é um dos Onze de Elite, um título que foi dado não oficialmente à seleção dos Alfas mais poderosos de nossa época e aqui estou eu, piorando as coisas para eles.

Eu gostaria de nunca tê-lo conhecido e gostaria poder voltar no tempo. Olhando para o relógio, percebo que já são cinco da manhã.

Eu deveria tentar descansar um pouco. Desligo a lâmpada quando meu celular apita.

Tensa, franzo a testa enquanto olho para o dispositivo elegante. Respirando fundo, desbloqueio e leio a mensagem.

‘Não consegue dormir? Bem, vou te dar algo mais para pensar. Volte para mim ou acho que toda a sua família adoraria assistir todos aqueles vídeos. Você quer que eles vejam exatamente o quanto a garotinha deles pode ficar LOUCA?

Sei a quais outros vídeos ele se refere e isso me dá náuseas.

Cubro a boca inconscientemente, meu estômago revirando enojado enquanto olho em direção à minha janela.

Ele está me observando.

Ando até a janela e olho para fora. Meu coração bate forte enquanto examino a escuridão lá fora.

Nada.

Eu não consigo ver nada fora do comum... Ele está apenas brincando comigo?

Meu celular apita novamente e eu olho para a nova mensagem que aparece na tela, uma mensagem que faz meu sangue gelar.

‘Vejo que você ainda dorme de roupa íntima.’