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Eu tinha apenas três anos quando tive minha vida arrancada do próprio corpo pela primeira vez.

Fui vítima do meu próprio pai por anos, um homem que sempre foi mau e desprezível, e que sentia prazer na minha dor. O verdadeiro demônio que bagunçou minha existência desde o início, o homem que eu mais odeio em toda minha existência.

Mas foi somente por causa dele e do que ele sempre fez comigo que me tornei o que hoje sou.

Que me tornei também um demônio.

Mas ele não leva toda a culpa por isso sozinho.

Foi também por causa do meu melhor amigo que me levou até aquele cemitério bem no dia do meu aniversário e me traiu friamente, me levando a se tornar o que sou.

O que sempre fui...

Kim Seok, a pessoa que eu mais confiei foi a principal em me fazer morrer e reviver, eu o odiei por isso, mas nunca deixei de amá-lo.

Foi por causa dessa traição que eu conheci Saejin. O meu Saejinie. Um vampiro bonito e arrogante que às vezes me faz querer matá-lo mesmo sendo imortal, e que também é responsável em me fez conhecer meu eu verdadeiro.

Todos são responsáveis por um pedaço da minha morte e também da minha vida.

Mas sinceramente, eu os agradeço.

!Atenção, essa história contém cultura sul-coreana e gatilhos!

13 de Outubro

Com um pequeno bolo enfeitado com flores amarelas, Kim Seok prendia o sorriso ao ter que acordar o melhor amigo no dia de seu aniversário de dezenove anos.

Lim Heyon dormia serenamente, enrolado dos pés a cabeça em seu edredom azul bebê.

ㅡ Yonie? ㅡ O Kim sussurrou ao sentar ao seu lado.

Heyon tinha os cabelos escuros escorridos pelos olhos, cobrindo parcialmente sua visão. Seus pequenos olhos inchados piscaram com vagareza. Seok sorriu, erguendo o pequeno bolo quando enfim a visão do Lim foi completamente para si.

ㅡ Feliz aniversário. ㅡ ditou baixo.

Heyon sentou-se sobre os lençóis, esfregando os olhos enquanto abria um sorriso bonito.

ㅡ Espera. ㅡ Seok pediu, buscando um pequeno isqueiro que tinha no bolso da jaqueta preta que vestia. Heyon fitou-o com atenção. Mordeu o lábio inferior enquanto o Kim deixava sua atenção na pequena velinha e suspirou baixinho, percebendo como o Kim estava bonito. Os cabelos castanhos com as pontinhas verdes, era o que mais encantava Heyon. ㅡ prontinho. ㅡ o Kim ergueu o bolo com as velinhas acesas. ㅡ faz um pedido.

Heyon sorriu, arrumando-se melhor sobre a cama quando fechou os olhos. Assoprou as velas com força, fazendo seu desejo com muito querer.

Seus olhos voltaram a fitar o bolinho com girassóis na parte superior e seu sorriso retornou.

ㅡ É bonito. ㅡ falou, olhando pro Kim. ㅡ Obrigado, Seok-ssi.

ㅡ Não foi nada. ㅡ o Kim deixou o bolo sobre o móvel de cabeceiro. ㅡ o que pediu?

ㅡ Não posso falar, assim não vai se realizar.

Seok comprimiu os lábios, não aprovando o segredo, mas não fez questão de saber de qualquer modo.

ㅡ Trouxe o seu presente. ㅡ Ditou, buscando no fundo dos bolsos de sua jaqueta.

Heyon abriu os olhos, surpreso.

ㅡ E se ele brigar? ㅡ perguntou num sussurro.

ㅡ Não vamos falar nele, você está fazendo dezenove, é um adulto.

Heyon mordeu a pontinha do lábio inferior, fitando o pó descolorante e a tinta de cor laranja nas mãos do melhor amigo.

Sempre foi vontade sua, ter os cabelos coloridos. E depois que conheceu Seok que sempre teve as pontinhas de seus cabelos verdes, aquela vontade só aumentou.

ㅡ Quer fazer? ㅡ O Kim perguntou.

Heyon tinha os olhos redondos e escuros guiados no melhor amigo. Precisava ter coragem, por isso, assentiu.

ㅡ Certo, então vamos comer o bolo e fazer, tudo bem?

Heyon jogou a coberta para o lado, fazendo Seok sorrir ao vê-lo em seu pijaminha fofo de listras brancas e pássaros verdes.

A casa dos Lim's estava silenciosa. Lim HanWool estava sentado de frente com sua mesinha de anotações, mas tinha uma bíblia preta aberta ali, as mãos estavam unidas e sua boca balbuciava palavras baixas a um Deus que fazia com que alguns duvidasse de si.

Heyon olhou-o quando os olhos certeiros do pai foram para si e apenas o reverenciou, dando-lhe um pequeno sorriso.

Sabia como não deveria interferir seu pai quando estivesse em seus momentos de adoração, e no dia de seu aniversário, não queria ser castigado por aquele erro.

O homem voltou sua atenção para a bíblia a sua frente e deixou que o filho seguisse para a cozinha.

Heyon buscou dois garfos e voltou nas pontas dos pés para o quarto. Quando adentrou o cômodo, suspirou, aliviado.

ㅡ Como você passou por ele? ㅡ perguntou entregando um dos garfos a Seok.

ㅡ Só passei. ㅡ deu de ombros. ㅡ ainda não vai me dizer seu desejo?

Heyon riu, negando. Buscou um pequeno pedacinho do bolo, trazendo uma das flores de açúcar junto.

Experimentou, deleitando-se no gosto tão doce.

Lim adorava doce.

Seok sentou-se ao lado, buscando um pedacinho do bolo, mas logo fez uma careta desaprovando o sabor quando o provou.

ㅡ Não entendo como alguém não gosta de doce. ㅡ Heyon falou, olhando-o. ㅡ tipo, é doce!

ㅡ Não curto. ㅡ ditou, deixando o garfo ao lado. ㅡ mas coma, eu encomendei com muito prazer.

O sorriso persistente, deixava transparecer um pouco da quedinha que Heyon sempre sentiu pelo outro.

Continuou comendo o bolo como se fosse a melhor comida do mundo, e de fato parecia que era.

Os cantos dos lábios sujos com o glacê branco, deixava o garoto com a aparência fofa.

ㅡ O que você quer fazer hoje? ㅡ O Kim indagou, buscando seu celular. ㅡ vou te levar para onde quiser.

ㅡ Até para o parque de diversões?

O Kim franziu o nariz, detestava aquilo.

ㅡ Claro, para onde quiser.

ㅡ Mas você não gosta, Seok-ah...

ㅡ O dia não é meu, é seu, Yonie. Então se quiser ir, podemos ir.

ㅡ Então eu quero. Quero brincar na roda-gigante e você vai comigo, ok?

O Kim revirou os olhos, fazendo o Lim rir.

ㅡ Ok.

Heyon continuou comendo o bolo, já estava quase na metade quando a porta de seu quarto foi aberta.

Seus olhos se arregalaram com a visão de seu pai, mas o homem apenas olhou para Seok.

ㅡ Me dê isso. ㅡ pediu, apontando para o bolo.

ㅡ O senhor quer um pedaço? ㅡ Seok perguntou.

ㅡ Você sabe bem como eu não aprovo Heyon comer tanto doce. Já está bom.

ㅡ O senhor vai guardar? ㅡ Heyon perguntou, cheio de receios quando buscou o pequeno bolo e entregou-lhe.

ㅡ Vou jogar fora. E se apresse, você ainda não orou hoje.

Heyon suspirou, assentindo. O homem ainda olhou para Seok antes de ir, deixando sua implicância no ar. Não gostava do Kim, muito menos aprovava aquela amizade.

ㅡ Porque você ainda ora? A que Deus está fazendo tais orações?! ㅡ Seok indagou, vendo Heyon se erguer para buscar sua bíblia que ficava guardada na última prateleira do guarda-roupa. ㅡ você nem acredita nisso.

ㅡ Mas ele acredita. O que posso fazer?

ㅡ Pedir para ele respeitar sua descrença, assim como você respeita a crença dele.

ㅡ Se fosse só por causa da crença... isso não tem nada a ver com o que está nesse livro, Seok. Sequer eu entendo o que está escrito aqui, é tão confuso.

ㅡ Então porque ainda vai? Você não é obrigado.

ㅡ Eu sou. Se eu não for, serei castigado friamente e eu não quero mais sentir dor. ㅡ falou, rumando para a sala. ㅡ Não me siga, fique aqui e espere.

ㅡ Não vá. Por favor.

Heyon deu-lhe um sorriso pequeno, já sentindo seu coração doer.

ㅡ Não tenho escolhas, Seok... Será rápido, eu volto logo. ㅡ Seok tinha os olhos escuros em si. Heyon sorriu triste. ㅡ use seus fones de ouvido.

Seguindo para o lugar onde sempre fazia suas orações, o Lim viu seu pai na cozinha, jogando o restante do bolo no lixo.

Aquilo doeu-lhe, e até mesmo pensou no quão hipócrita o homem era. Ditava sobre tanto sobre o que era errado, e sempre falava como não podia estragar alimentos.

Mas então porque jogou todo o restante do seu bolo fora?

Havia sido Seok a lhe dar, tinha mais valor do que simplesmente sabor.

ㅡ De joelhos. ㅡ o homem ordenou.

Heyon seguiu, deixando a bíblia sobre a mesinha de centro e ajoelhou-se em frente.

ㅡ Comece. ㅡ HanWool mandou.

O garoto encolheu os pés, arrumando-se sobre os joelhos e viu o pai sentar na poltrona à frente.

Enojou-se quando logo de início, o homem abriu um sorriso satisfatório.

Heyon sempre fechava os olhos o mais forte que conseguia, e seguia um roteiro de palavras que o próprio homem havia lhe ensinado.

HanWool suspirou, fitando a imagem do garotinho ajoelhado à sua frente. Lembrava-se sempre de quando aquilo começou, Heyon havia crescido tanto...

Heyon fechou os olhos com mais força quando ouviu o suspiro alto de seu pai e imaginou o que o homem começava a fazer enquanto o observava daquele jeito.

HanWool era desprezível. Tocava-se ainda sobre a roupa, vendo o modo prazeroso que seu pequeno filho idolatrava o que ele havia ensinado.

Heyon sentia o coração acelerar, desde que entendeu o que aquilo realmente era, sentia-se cada vez mais sujo. Mas, infelizmente, se recusasse a fazer aquilo, seria ainda pior.

Ele já havia sentido na pele a dor da rejeição dos prazeres de seu pai. Havia sentido e visto nos rastros de sangue que sempre ficavam no tapete da sala e no couro do cinto que o homem usava para lhe ensinar a ser um garoto bom.

Seok ouvia aqueles sons do quarto, sentia sua cólera aumentar a cada segundo. Imagina como seria bom Heyon se livrar daquele homem, mas, infelizmente, era tudo o que o Lim tinha como família.

Com um ruído alto, Heyon sabia que sua oração havia chegado ao fim. Ergueu-se, limpando a única lágrima que escorria por sua bochecha e recolheu a bíblia, caminhando de volta para seu quarto sem olhar no rosto do homem.

Naquele momento, estava impuro. Sentia a ânsia de pôr sua mágoa para fora, por tanto, sem olhar sequer para Seok, devolveu o livro para o lugar onde sempre ficava e se trancou no banheiro.

Seok se ergueu, sentindo-se enojado. Tocou a madeira branca da porta do banheiro e colou o ouvido ali, ouvindo o choro baixinho que o Lim começava a deixar escorrer junto com a água.

Fechou os olhos, controlando-se para não deixar seus instintos aflorarem e se misturar à raiva.

Respirou fundo, voltando a abrir os olhos marrons.

ㅡ Yonie? ㅡ chamou, ouvindo o som do choro parar. ㅡ eu vou te levar ao cinema também, ok? Vou comprar um baldão da pipoca amanteigada, tá bem?

Heyon tremulava os lábios naquele momento, tentando, de alguma forma, limpar seu corpo maculado. Mas sorriu, sentindo uma leve paz ao ter alguém bom no qual podia contar e confiar.

Ao menos tinha Seok.

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