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"Toda a beleza é alegria que permanece."

 Jhon keats

 "Hoje é o aniversário de 25 anos de casamento dos meus pais, então decidi escrever sobre eles aqui no blog.

 Tudo começou em 1994, na viagem que meu pai fez após sua formatura. Ele conheceu Marta, minha mãe e naquele verão se amaram intensamente.

 Roberto e Marta se entregaram sem nenhuma cobrança e quando o verão acabou ele voltou para São Paulo e ela seguiu sua vida ali em Santos.

 No ano seguinte quando ele tratava de negócios com a dona de uma floricultura os dois se reencontraram. Para resumir a história ela havia se mudado e trabalhava lá agora.

 Chame de sorte, destino ou Deus, o que importa é que uma força no universo conspirava em favor deles.

 Voltaram a sair e quatro meses juntos decidiram se casar, mesmo que os pais fossem contra um casamento tão rápido eles seguiram em frente.

 Um mês depois de casados veio à notícia, mamãe estava grávida de mim, Emma. Três anos mais tarde veio meu irmão Cristian.

 E vinte e cinco anos depois de terem se conhecido ainda estão apaixonados e em lua de mel, como sempre dizem. Então para esse casal que adora celebrar o amor: meus parabéns, que venham mais e mais anos de felicidade!".

 Fechei meu notebook e fiquei pensando como o tempo passava rápido, há sete anos estávamos acabando o ensino médio, eu, Caio e Jenny montamos este blog "junto e misturado", porque era assim que chamavam nosso trio, foi uma tentativa de nos manter unidos mesmo com toda a loucura das nossas vidas.

 Fizemos planos para a faculdade e sobre como organizar todo o nosso futuro sem nunca deixar de lado nossa amizade. Afinal Caio estaria em Campinas cursando medicina, Jenny viajando pelo mundo fazendo reportagens importantes para a revista de seu pai e eu em São Paulo fazendo arquitetura, usaríamos o blog para nos manter informados sobre os acontecimentos da vida um do outro, não importando quanto tempo passássemos sem nos falar, poderíamos simplesmente entrar e atualizar nossas fofocas.

 Poucas coisas ainda permaneciam de pé depois de todos esses anos.

 — Chega de nostalgia por hoje! — murmurei jogando às cobertas para o lado, pronta para me levantar e encarar o dia.

 Tomei um banho rápido, escovei os dentes e peguei a roupa mais confortável para o dia na loja. Depois de uma maquiagem rápida desci às pressas, queria passar um tempo com meus velhos antes de correr para a floricultura.

 Logo Cris chegaria e junto com ele a nossa surpresa para o casal.

 — Bom dia família! — gritei animada, após jogar minha bolsa e os sapatos na porta da cozinha.

 Meu pai estava passando café e impregnando a casa com aquele cheiro maravilhoso, o bom café. Eu sabia que ele já tinha levado o café na cama para mamãe, pois já era uma tradição de aniversário.

 Ela agora o observava caminhando pela cozinha com sorriso de orelha a orelha. Não queria nem imaginar o motivo do sorriso, mas tinha certeza de que não era pelo simples café na cama, mas algo que envolvia a cama definitivamente.

 — Bom dia filha. — ela respondeu finalmente desviando os olhos do marido e estalando um beijo em minha bochecha quando me alcançou, só para voltar os olhos para seu homem a beira do fogão.

 — Bom dia. — papai disse se juntando a nós e colocando a garrafa de café cheia na mesa. — Sente-se e coma. — ordenou sorrindo e indo abraçar sua amada.

 Vocês devem pensar que esse grude seja apenas pelo aniversário de casamento, mas não se enganem, é assim o bendito tempo todo. Eu e Cris crescemos no meio de toda essa babação e demonstrações de afeto. Às vezes até publicas de mais, como na vez que eles foram pegos transando em um banheiro nas bodas do nosso avô, mas sempre fomos ensinados que se tem amor não tem do que se envergonhar.

 Claro que essa parte Cris entendeu totalmente o contrario, no caso dele está mais para: se tem tesão não tem do que se envergonhar.

 — Como se precisasse implorar. — murmurei já me servindo, só o cheiro delicioso estava fazendo meu estômago roncar.

 — Bom dia! — Cris exclamou feliz fazendo uma entrada sorrateira pela porta dos fundos. Era só pensar no rabudo que ele aparecia. — Feliz aniversário de casamento. — murmurou jogando seus braços em volta dos dois e os abraçando apertado.

 — Pelo menos um de nossos filhos não é um completo esquecido! — meu pai resmungou me assistindo devorar o pão.

 — Ora ora, eu não esqueci, vocês deveriam dar uma olhada no blog e... — olhei para o relógio na parede. — Seria bom que fossem abrir a porta.

 — Mas não tocaram a campainha... — foi tudo o que mamãe teve tempo de falar, poucos segundos antes do som solene da campainha a deixar intrigada.

 Ergui as sobrancelhas ao ouvir o som e sorri para o meu irmão de forma conspiratória. Fazia algumas semanas que planejávamos aquela surpresa para os dois e tinha certeza que iriam adorar.

 — Como você está, princesa? — Cris perguntou se sentando ao meu lado e cutucando meu prato.

 Se havia algo que ele amava fazer era roubar comida dos pratos alheios, mas coitado de quem usasse tocar na comida dele, o bicho se manifestava. E isso não se aplicava a pratos apenas, se é que me entendem.

 — Eu estou ótima e você? — respondi enquanto comia o mais rápido que conseguia, antes que ele pegasse o resto do meu café.

 — Bem também. — ele já estava com a boca cheia e se preparando para colocar um pedaço de bolo inteiro na boca.

 Era a educação em pessoa.

 Lhe dei uma cotovelada gargalhando de seus hábitos animalescos na mesa, mas já estava acostumada, e antes que ele revidasse escutamos os gritinhos de euforia da mamãe e sorrimos sabendo que tínhamos acertado em cheio.

 — Ai meus filhos como vocês são uns amores! — ela falou correndo para nos abraçar já com lágrimas nos olhos.

 O presente deles estava no colo de papai, um cachorro que estava há um bom tempo para adoção e que por meses mamãe estava namorando-o na vitrine da petshop.

 Além do bichinho havia duas passagens, meu pai, que agora seria obrigado a tirar às suas merecidas férias, nos olhava com um sorriso largo no rosto sabendo que fizemos aquilo para que ele não tivesse como rejeitar.

 Tínhamos comprado passagens para Paris. Se quisesse fazer com que meus pais curtissem uma viagem sozinhos teria que ser na base da força, eles se privavam desses pequenos luxos por conta do trabalho e da família.

 — Vocês não tem jeito! — papai murmurou entrando no meio do nosso abraço desengonçado. — Obrigado meninos.

 — E o bolo? — Cris questionou pulando para fora do abraço e fazendo seu apetite desenfreado ser lembrado.

 — O bolo fica por conta da Em. — minha mãe falou, lhe dando um prato para que ele parasse de comer com as mãos e se sentasse de uma vez.

 Como se algum dia ele fosse deixar de ser o ogro que era apenas porque ela pedia.

 — Apareça de noite e então terá o seu bolo. — murmurei pegando o novo integrante da família no colo. — Você pode trazer a Margo. — o provoquei apenas para vê-lo ficar vermelho.

 Mas não se enganem, não havia nada de vergonha ali e sim irritação, ele fugia de contar sobre qualquer um de seus casos, em especial para nossa mãe.

 — Margo? O que têm a Margo? — meu pai questionou um tanto desinteressado, preparando seu prato.

 — A secretária do seu pai? — nossa mãe entrou na conversa falando mais alto, já o encarando com vários questionamentos se formando em sua cabeça.

 Já era de conhecimento geral que não agradava ela nenhum pouco que seus dois filhos, eu com vinte e cinco anos e Cris com vinte e dois, não estivéssemos em nenhum relacionamento sério e muito menos que não parecíamos inclinados a ter um.

 — Mãe, pai, não deem atenção a essa maluca. — ele rosnou me fuzilando com os olhos.

 Nós dois sabíamos que a qualquer sinal de envolvimento mamãe se meteria e faria de tudo para que o relacionamento desse certo. Em especial com ele que sempre estava trocando de mulheres como quem troca de roupa, nenhuma parava na vida dele por muito tempo.

 — Sim, ela mesmo mãe. — continuei entregando-o de bandeja para meus pais. — Vai negar, Cris? — o provoquei mais uma vez antes de ir embora, adorava tripudiar em cima daquele safado sem coração que adorava usar às mulheres ao seu bel prazer.

 — Negar o que Emma? — a voz baixa soou como um aviso, mas eu nem me preocupava, Cris era inofensivo.

 — Que você e a margo estão saindo! — soltei a bomba, já tinha calçado os sapatos e pegado minhas tralhas, pronta para fugir do ataque de perguntas de mamãe e da raiva de Cris.

 — Quem te falou isso? — seus olhos arregalados não escondiam que era verdade, mas seu rosto vermelho mostrava que mais um pouco e ele pularia em cima de mim.

 — Eu não preciso de ninguém para me contar, vi como você ficou quando ela chegou no último jantar aqui em casa, como vocês se olhavam. — resmunguei já preparada para correr a qualquer movimento dele. — E também ouvi uma conversa sua com ela outro dia. — contei todos às pequenas coisas que percebi sobre esses dois nas últimas semanas.

 Meu pai brincava com o filhote peludo, enquanto minha mãe me encarava fascinada, como se eu estivesse explicando algum segredo complexo do mundo.

 E se tratando do meu irmão saindo com alguma mulher mais de uma semana era quase isso.

 — Você é uma pessoa horrível sabia? — ele bufou desanimado já lançando seu olhar de "pobre coitado" para nossa mãe.

 — Por que vocês acham que tem que esconder às coisas de nós? — meu pai nos questionou sorrindo, já sabendo qual o real motivo do desconforto do filho.

 — Porque são meus pais? Não acho que precisem saber de tudo da minha vida. — Cris reclamou amuado.

 O desgraçado era cheio de truques para fazer qualquer um cair em sua lábia. O encarei balançando a cabeça diante de sua cara de pau em se fazer de vítima.

 — Não vejo nenhum problema em vocês saírem, desde que não misturem nada com trabalho. — meu pai finalizou o assunto, já que os três trabalhavam no mesmo escritório às coisas poderiam sair do controle.

 — Pode deixar pai. — Cris pigarreou enquanto me lançava um olhar altivo, de quem tinha vencido.

 Céus! Como éramos infantis.

 Desde pequenos sempre fomos competitivos um com outro, mas se nos juntássemos contra alguém éramos imbatíveis, ninguém conseguia nos vencer em nada que decidíssemos fazer unidos.

 — Emma, por favor, fique longe dele ok? — mamãe disse pegando o cachorrinho do meu colo e sendo super protetora como sempre. — E com você converso depois rapazinho. — falou encarando Cristian, ele não se livraria tão rápido dessa, ela não ia deixar passar.

 — Mamãe eu estou bem. — murmurei contrariada com seu cuidado extremo. — E por favor dê um nome à ele. Já vou indo, alguém tem que trabalhar nessa casa. — os beijei e beijei Cris sorrindo do seu bico de menino mimado. — Sabe que te amo. — sussurrei e segui para porta, mesmo querendo passar o dia em casa com eles.

 — Até a noite Pandinha! — o ouvi gritar antes que fechasse a porta e sorri ao ouvir me chamar assim, pelo meu apelido de criança.

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