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A muitos séculos atrás existiam seres místicos, criaturas sobrenaturais que poderiam facilmente se passar por seres humanos.

Com o passar das eras eles acabaram sumindo, e tudo indicava que eles haviam sido extintos devido à curiosidade humana, ao egoísmo e a negação em saber que não se tratava somente de criaturas, e sim de pessoas. Famílias foram destruídas, muitos morreram nas mãos dos humanos e tudo isso em prol da ciência. A curiosidade havia levado raças à extinção, ao menos era isso que a história dizia. Para muitos acabou se tornando somente isso, contos para dormir, mas no silêncio da noite, nas densas florestas e até mesmo a própria mãe lua cantava para que eles acordassem e reivindicassem o que lhes pertencia por direito.

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Louise narrando:

Mais um dia tenebroso na faculdade e eu chego na conclusão de que isso não é pra mim. Nunca foi meu sonho cursar contabilidade, na realidade eu sempre fui péssima com matemática e sempre deixei isso claro. Mas óbvio que a burra aqui tinha que tentar agradar os pais. No final das contas é como se eu, mesmo com meus vinte e quatro anos, não comandasse a minha própria vida. É como se eu fosse uma marionete e os fios que me prendem são todos os ‘’compromissos’’ sociais que eu tenho. Estou farta disso, farta de tudo. Moro em um quartinho apertado que mal tenho espaço pra circular, trabalho em uma lanchonete que não me dá tempo e nem folga pra nada, e ainda aturo sermão da família, dizendo que é só questão de esforço, que se eu quiser eu posso arrumar um emprego melhor, que eu posso alugar uma casa maior, que eu posso isso e aquilo. Nossa, isso é terrivelmente chato.

Decidi fazer uma viagem, somente eu e meu fusca. Não tenho gato porque a dona do prédio não permite, sempre achei ela meio amarga e sem sal, quem não gosta de um bichinho de estimação? Eles são simplesmente perfeitos e companheiros. Eu gosto mais de cães, acho eles um máximo. São fiéis e nunca abandonam você, são dependentes mas também fortes. Ainda acho que eu deveria ter ido contra os princípios da família e cursado veterinária, certamente eu seria muito mais feliz.

Consegui três dias de folga, até porque eu tinha tanta hora extra que se eu parasse pra cobrar receberia dois salários a mais. Coloquei em um cooler tudo que eu achava importante, no meu caso pão, algumas frutinhas e bastante água.

Eu já tenho um destino certo, é uma linda cachoeira que tem na mata e um pequeno chalé de aluguel que tem nas redondezas. Não gosto muito de mosquito mas coloquei bastante repelente na bolsa. Sei que tem uma pequena cidade ali perto, é meio rural mas vai servir para qualquer coisa que eu precise.

Arrumei minha mochila e parti, na esperança de lavar toda a raiva e ranço que eu tenho no meu corpo com a água da cachoeira.

Foram algumas horas de viagem, um pouco cansativo, confesso, mas só de sair da cidade grande já é algo maravilhoso. Meus trabalhos da faculdade estão adiantados e evitei comunicar à minha família meu destino, porque tenho certeza que iria ouvir sermão por ir pro ‘’meio do mato’’. É a primeira vez que faço isso, sempre tive vontade de acampar, mas nunca tive companhia. Não sou de muitas amizades, sou o tipo de pessoa que prefere os animais do que as pessoas.

Adentrei uma pequena estrada de terra e logo já vi a densa mata que iria me rodearia nos próximos dias. Confesso que me deu uma pitada de medo, até porque vou estar sozinha, mas nada que um spray de pimenta não resolva. Permaneci na estrada por mais uma hora, meu automóvel já estava pedindo socorro devido a intensa poeira que levantava.

Minha primeira parada seria na pequena cidade, queria comprar alguma bebida gelada e não sabia a real situação do chalé, sei bem que nem sempre o que é postado é o que realmente encontramos.

Quando estacionei na frente de uma pequena conveniência percebi que aquela cidade parecia parada no tempo, algumas pessoas que passavam na rua me olharam de maneira estranha, e me senti desconfortável. Ao abrir a porta um pequeno sino tocou, o lugar tinha meia dúzia de pessoas e cada uma delas me direcionou um olhar.

Peguei o que achei que fosse precisar, incluindo duas latas de cerveja, faz tempo que não coloco uma gota de álcool na boca.

_ Olá, gostaria de algo mais ?

Perguntou a senhora simpática no balcão.

_ Não, obrigado. Acho que é tudo!

Falei sorrindo, simpática também.

Estava cansada e tudo que eu desejava era chegar ao chalé, no dia seguinte eu iria passar o dia de molho na água, somente eu e minha cerveja.

Ela me disse o valor da compra e eu paguei com o maior prazer, Quando eu estava virando as costas a senhora me chamou.

_ Desculpa perguntas, mas você não é daqui, não é ?

Perguntou ela um pouco envergonhada.

_ Não, sou da cidade, vim passar uns dias por aqui.

Falei sorrindo.

_ Ah, temos uma pequena pousada para visitantes no final da rua.

_ Não será necessário, aluguei um chalé mais próximo da mata.

Falei tranquilamente.

Ela pareceu ver três cabeças em mim, me olhou de uma maneira que me deixou extremamente desconfiada. Saí dali com uma pulga atrás da orelha, será que vim de tão longe para cair em um golpe? Fiz até o pagamento adiantado e não tenho tanto dinheiro assim, vim apenas com o necessário.

Entrei no carro novamente, com um pouco de receio e medo. Dirigi até o local que o mapa indicava e realmente cheguei até um chalé, exatamente o descrito na foto. Mandei uma mensagem para a pessoa responsável por me alugar, e logo ele respondeu que a chave estava embaixo de um pequeno vaso de flores amarelas. Quando abri vi que realmente era tudo e mais um pouco do que aparecia na foto e respirei aliviada.

A noite chegou rápido. Fiz um pequeno lanche e sentei na varanda em uma cadeira que havia ali, observando as estrelas. Meu celular ficou sem sinal e eu nem sequer dei bola, até agradeci mentalmente, não queria ninguém me incomodando, é meu momento de paz.

Olhei para os dois lados da floresta, achei meio estranho a sensação que me subiu, era como se algo me observasse, mas descartei a possibilidade, até porque é a primeira vez que acampo sozinha.

_ Louise, sua doida, já está vendo coisas.

Falei pra mim mesma enquanto ria.

Depois de alguns minutos entrei pra dentro, já passava da meia noite. Parei pra observar o chalé, era bem rústico e seguro. No chão havia um tapete de pele bem felpudo, senti pena do animal que morreu pra ser feito um tapete como esse. Tranquei tudo e conferi, coloquei meu celular para despertar e me deliciei com o barulho dos grilos e das árvores do lado de fora, minutos depois acabei adormecendo.

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