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Não havia mais dentes na boca dos dois homens, sangue dos Deuses escorria junto com a saliva de seus lábios semicerrados, suas mãos estavam duramente amarradas no alto de suas cabeças, inertes, cansadas de retorcer-se em agonia escaldante. Ambos os machos não sabiam quanto tempo os membros de seus corpos aguentariam sem receber sangue, pois a corda estava bastante apertada, reforçada, não para conter um simples humano, e sim bestas, cuja força somada superava homens adultos no pico da animosidade e boa vontade.

Os dedos deles estavam em carne viva devido à ausência das unhas que jaziam em potes de vidro em cima da mesa de madeira, no centro do quarto. O sangue, já seco, era abundante, envolto nas unhas e no recipiente em cima da mesa empoeirada. Drak Macnnel passou a língua em um movimento lento pelos buracos ocos boca, onde antes estavam seus dentes enraizados, ele sentiu o gosto metal do seu próprio sangue e, pela primeira vez, não lamentou ser o que era, a criatura dentro dele acordou e se regozijou com o sangue, a dor não o afetava, pelo contrário, apetecia o monstro que vivia em sua pele.

Os dois belos rapazes já nem sentiam dor, de tão debilitados que estavam. A maldição deles, sedenta por libertar-se, sabia que iria tomar o controle de seus corpos uma hora ou outra, era só questão de tempo.

No ponto mais alto da noite o ranger das dobradiças da porta anunciara a entrada do carrasco, Drak Macnnel forçou-se a manter seus olhos abertos, suas pestanas trêmulas pelo esforço. Ele não queria dar lugar á besta.

O irmão mais velho não podia ver a lua pela janela, mas Drak sabia que ela estava lá, em todo sua glória lhes dando a vitalidade que precisavam e enviando força para a besta se libertar. Podia sentir suas células abastecendo-se do poder que ela emanava. Drak fungou, experimentando um cheiro familiar, sua testa franziu, pensou que alucinava, pois sentiu o cheiro dela entrelaçado ao odor do carrasco, doce, levemente apimentado.

Seu irmão mais novo, Connor, que estava ao lado dele, fungou alto, seguido de um rosnado animalesco. O barulho misturado ao seu próprio rosnado também, saindo de seus lábios involuntariamente. Em seus devaneios, em meio a tortura, ele podia vê-la correndo pela floresta rumo á cabana que construíram especialmente para ela, rindo, ela sabia que eles poderiam alcançá-la, mas esse não era o objetivo da caçada. Ela gostava de tentá-los, erguendo uma polegada de um dos seus muitos vestidos vermelhos, mostrando a liga carmesim amarrada na coxa suculenta, ela ria sabendo que eles correriam atrás dela com sede de tê-la em seus braços, era uma mulher tentadora, era a vida deles, ela era deles. Corpo e alma.

Drak forçou as cordas que o detinham, exasperado, calculou o que faria primeiro ao pegar o torturador, nada que decidisse seria punição suficiente. Ele e seu irmão foram capturados, queriam saber como eles transformavam-se em bestas. Almejavam desesperadamente um exército poderoso para lutar contra Cartago. Antes, Drek e seu irmão eram apenas lendas, dizia-se que bestas rondavam os arredores da cidade de Cadalice, tais bestas protegiam a pequena povoação, matando malfeitores e fazendo justiça, a lenda virou realidade quando eles aniquilaram o irmão do alto magistrado, nada menos que o homem que detinha o poder sobre a maior legião do império. uma armadilha foi montada e ele e Connor foram pegos. O Legatos queria o segredo da besta que dormia sob suas peles, e após conseguir, certamente lhes matariam. O comandante não era conhecido por sua misericórdia e não chegou ao poder sendo benevolente.

Eles pretendiam vencê-los pelo cansaço, esperariam se cansarem, acharem que, na verdade, o que diziam as histórias não passavam de lendas dos aldeãos. Eles certamente os matariam, pensariam que os mataram, e eles voltariam a vida, pegariam o que lhes pertenciam e partiriam dali. Esse era o plano, até agora. Afinal foi o que sempre fizeram. Não agora.

Drak ficou paralisado, não acreditando, querendo não acreditar.

O Carrasco deixou um saco de estopa no canto. Andou de um lado para o outro, concentrando sua atenção nos vários utensílios em cima da mesa analisando qual ferramenta usar contra eles dessa vez, seus cabelos grisalhos diziam que ele tinha o tempo e experiência para poder trabalhar neles. As botas de couro que usava levantava um pouco de poeira do chão, formando um rastro de neblina por onde passava. Ele parou, dirigiu a mão ao queixo, pensativo.

Por fim, não escolheu nada da mesa.

— Três dias senhores ㅡ o velho falou calmamente ㅡ Sabiam que sou o melhor do meu ramo? E mesmo assim não abriram a maldita boca! Basta falar que pacto maligno fizeram com Hades ㅡ Esbravejou e parou, tomou uma respiração e continuou mais calmo ㅡ Perdoem meus modos. Apenas perdi o controle e esqueci o objetivo final. O fato de não terem respondido minhas perguntas, mesmo com tudo isso ㅡ Apontou para a mesa com ferramentas de tortura em cima ㅡ É maravilhoso, os soldados perfeitos. De qualquer forma, cheguei a conclusão que estava usando o incentivo errado.

Não! Drak sabia o que estava por vir, ele tentou enganar sua mente a desacreditar, mas sua besta não poderia ser enganada, pois só havia uma pessoa com que eles se importavam. Apenas uma. Elena. E o cheiro dela emanava do saco ensanguentado.

Arrependeu-se amargamente de não ter acasalado com sua companheira, ele pensava que tinha todo o tempo do mundo para isso, queria ir devagar, cortejá-la, leva-la para um passeio de barco ao pôr do sol, roubar um beijo no processo e desculpar-se com outro beijo pela insolência dele, e agora tudo estava acabado, e era culpa dele, dele e de seu irmão.

O ancião deu meia volta e pegou o saco de pano que deixara na entrada. O homem se aproximou e ergueu o que carregava nas mãos. Os dois sabiam o que tinha lá dentro, não estavam delirando quando sentiram o cheiro dela, Drak sentiu seus últimos traços humanos clamarem por ela. Mas sua Lena não estava mais lá.

Eles a levaram, levaram o que era deles!

— Elena ㅡ declarou em uma mistura murmurada de rosnados e palavras.

Ao seu lado, seu irmão, Connor, já havia deixado a humanidade para trás, a transformação dele estava às portas. A respiração acelerada, a pele lisa substituída por pelos negros, as cordas se rasgando no pulso devido crescimento dos músculos, os ossos, esticando e alongando. A Fera dentro dos irmãos acordou e estava sedenta de sangue.

— Oh! Graças aos deuses! o legatos ficará extasiado. Graças á Hades, a lenda é real — O velho bateu palmas animado, os olhos brilhando de excitação. O torturador queria vê-los se transformar, eles queriam seus segredos, e eles dariam ao homem exatamente o que ele procurava. Mesmo na transição Drak forçou seus pensamentos, tentando manter a humanidade, seu lobo almejava despedaçar os que ousaram tocar em sua companheira. Precisamos fazê-los sofrer, avisou sua besta. Fazê-lo morrer rápido não saciará nossa vontade.

O velho já não estava mais na sala, correu no meio da transformação, a única a vê-los transformados que continuou em sua presença foi Lena, todos os outros se borravam nas calças de imploravam pela vida. Connor Uivou e destruiu a sala, que se tornou pequena para contê-lo. Drak inspirou forte, sentindo o cheiro do medo que deixara uma trilha fresca para seguir. Connor derrubou a porta e um estrondo soou no castelo, seguindo dos sinos tocando freneticamente no mosteiro, alertando os soldados. Seu irmão mais novo queria comer o carrasco vivo, e ele também. -

Matar.

A criatura em ambos os irmãos queria matar, perfurar com seus caninos e rasgar com suas garras, agradeceu por sua besta assumir o controle do seu corpo, pois a consciência não queria pensar que a companheira deles havia partido, eles não sentiriam mais seus doces lábios, sua língua impertinente e inteligente, seu calor fervente que dava sentido à vida.

Eles deixaram uma trilha de sangue na perseguição ao torturador, os guardas que tentaram enfrentar as feras não passavam de um aquecimento frívolo. Eles só queriam viver uma vida pacifica na vila com sua companheira, essa foi a pior decisão que tomaram, Drak prometeu a si mesmo que não seria mais assim, os humanos se curvariam á vontade deles á partir daquele dia, o único resquício de bondade que irmãos tinham havia morrido, Elena nem precisaria passar pelo julgamento no reino de Hades, ela seguiria para o paraíso, os campos de Elísios, mas a alma de sua companheira jamais poderia descansar, eles eram egoístas demais para deixá-la ir, ela voltaria, eles preparariam um novo mundo para Elena, onde os lycans reinariam.

O carrasco pagaria por tê-la feito fazer o caminho dos mortos, Lena deveria estar assustada, com medo, sozinha, aguardando seu julgamento. Drak gostou que o humano era ágil para a idade, assim a cassada seria mais gratificante, também, sagas para tomar suas decisões, fora sábio ao fugir da ira dos irmãos, ele já estava algumas milhas do mosteiro, para os monstros que o perseguiam foi fácil alcançá-lo.

Galopava nas passagens íngremes da montanha sem olhar para trás, forçando o cavalo a ir mais rápido, batendo sem piedade a espora de sua bota na barriga do animal. O Alazão sentiu nossa presença, e levantou as patas dianteiras descartando o peso extra no chão para poder fugir, o bicho estava aterrorizado mesmo com antolho o cavalo sabia que havia predadores á espreita. Nós paramos, imóveis, observando, esperando o pequeno humano se dar conta da nossa presença nas sombras, o carrasco amaldiçoa os deuses e se levantou do chão esticando as costas, uma rápida olhada para o topo da montanha para se certificar que o sino havia parado de tocar, o sorriso satisfeito em seus lábios lhe davam a certeza que os guardas tinham nos contido, Connor cuidou do soldado que tocava aquele metal incomodo. Todos no mosteiro estavam mortos. Só então o carrasco nos viu, quando eu rosnei. Sua face empalideceu, ele caiu no estrada, assustado. Seus pés e mãos engatinharam no chão, rastejando-se, tentando manter distância.

ㅡ E-u eu... tenho família, por favor, poupem minha vida ㅡ Ele acenou, colocando as mãos na frente do corpo. Da boca dele não saiu mais que murmúrios de um moribundo que sabia que iria padecer ㅡ Os guardas não mataram a ferreira, ela está viva ela está... eu posso leva-los até ela...

mentiras e mais mentiras, Elena se foi, o sangue falava, e aquele derramado no mosteiro não tinha mais mestre para retornar.

"Nós também tínhamos, até você levá-la de nós" Ouço os pensamentos do meu irmão através da nossa ligação.

Lentamente voltei a forma humana, a transformação semelhante á uma picada de mosquito, os ossos sabiam como retroceder. Minha besta sabia que as mãos humanas eram melhores em torturar que as presas de um animal.

ㅡ Não vamos matá-lo, não agora ㅡ Falo me elevando a meia forma, me controlando para não pular na jugular e quebrar minha palavra ㅡ Matar seria fácil demais, não lhe daremos essa bênção ㅡ Diz Connor ao meu lado, já na forma humana ㅡ Nossas bestas precisam se deleitar na sua dor.

ㅡ Por tú, eu me rebaixarei a pedir algo ás bruxas, até de joelhos se for necessário ㅡ murmuro me agachando, falando ao ouvido do humano. Connor olha para mim e sorri, não é de alegria, é apenas de compreensão, além dos deuses, só as bruxas podem fazer um mortal viver eternamente. Elas só precisariam do sangue de um Deus e muitas dracmas de ouro. Eu o torturaria eternamente, e quando Elena finalmente retornasse eu o faria apodrecer um uma tumba submersa no mar, para se afogar pela eternidade.

O carrasco tirou nosso vida, nosso ar, a nossa Carma. E eu tiraria tudo dele também.

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